Pesquisa da Abraceel indica que brasileiros gostariam de escolher seu fornecedor de energia

Abertura do mercado de energia - 26/08/2021

Prime Energy
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Através do Datafolha, a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) realizou uma pesquisa de opinião pública em que 81% dos entrevistados apontaram que gostariam de ter a possibilidade de escolher seu fornecedor de energia. O número, que é o mais alto da série histórica, manteve-se equilibrado com as pesquisas dos últimos dois anos. Avalia-se que o consumidor tem a percepção de que a escolha de fornecedor pode favorecer uma tendência de queda nas tarifas.

Em 2014, foi realizada a primeira edição da pesquisa. Nela, 66% dos entrevistados responderam que gostariam de escolher seu fornecedor de energia. Até 2019, os números permaneceram na faixa dos 70%, quando então saltaram para 80%. O perfil daqueles que apoiam a possibilidade é de pessoas na faixa etária de 25 a 69 anos, com curso superior, classe C, que residem nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte.

Sobre a troca de fornecedor, 70% dos entrevistados trocariam de fornecedor se lhes fosse permitido. O principal motivo da troca é o preço, seguido pela busca de fontes limpas e a qualidade do serviço.

O preço da conta de luz passou a pesar no orçamento familiar de 79% do público da pesquisa. Para 78%, os gastos com energia elétrica ficaram mais altos em relação ao patamar pré-pandemia. Na avaliação de 68% dos participantes, houve aumento no consumo.

O valor das tarifas permaneceu estável. Segundo a pesquisa, oito em cada dez pessoas consideram que sua conta de luz está muito elevada. Entre esses, 18% consideram muito caro; 35%, caro; 13% consideram o valor justo; e 3%, baixo. A porcentagem apurada em 2019 foi de 87% entre caro e muito caro. Ainda que tenha ocorrido variação, o patamar segue acima dos 80% desde 2015.

Taxas e impostos que compõem a tarifa são responsáveis pela sensação de valor elevado. A falta de concorrência fica em segundo lugar, na avaliação dos pesquisados.

O presidente executivo da Abraceel, Reginaldo Medeiros, considera que o resultado é ainda mais significativo quando considerado que 25% dos consumidores estão enquadrados na tarifa social, o que faz com que tenham outra percepção sobre o aumento das tarifas.

O executivo observa que “os resultados da pesquisa mostram que o consumidor acredita que a competição pode ser melhor para ele”. E completa: “O consumidor acredita que a tarifa é elevada e quer mudança. Ele tem como base o que ocorreu com a telefonia no Brasil nos anos 1990”.

A possibilidade de autogeração também teve resultados bastante relevantes. A pesquisa aponta que 92% dos entrevistados gostariam de produzir eletricidade em suas residências. O nível está em patamar semelhante às duas últimas pesquisas.

De acordo com o representante da Abraceel, a disseminação de informações acerca da geração distribuída ampliou o debate sobre o preço da energia. Ele diz que “esse fator mostra que as pessoas, quando podem administrar seus fornecedores, é isso que elas querem”.

As entrevistas foram realizadas em todas as regiões do País, com amostragem em 130 municípios. Foram 2.081 entrevistados. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa ocorreu entre os dias 10 e 14 de maio de 2021. A renda familiar média dos entrevistados era de R$ 3.500 e idade média, de 43 anos.

Cenário político

Após a retomada de atividades no Congresso, a Abraceel voltou a fazer esforços a fim de que seja retomada a tramitação do Projeto de Lei (PL) 414, antigo PL 0232. O Projeto de Lei aguarda despacho do presidente da casa, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), há quatro meses.

Em relação ao tema, Medeiros diz: “Lembro que o PL 1917 está desde 2015 na Câmara e o PLS (Plano de Logística Sustentável) 232, que finalmente foi aprovado no início deste ano, está aguardando despacho do presidente da Câmara, que está sentado no projeto há 140 dias”.

Para o presidente executivo da Abraceel, há uma janela até o final de 2021, já que, no próximo ano, serão realizadas eleições gerais, o que, em geral, atrapalha a definição acerca dos debates sobre energia.

O representante da Abraceel também compartilhou a frustração após a retirada da emenda da Medida Provisória (MP) 1031, que definia o cronograma incluído no texto pelo Senado, da abertura do mercado livre. Segundo Medeiros, seria importante que a emenda fosse aprovada para finalmente dar andamento ao processo de ter um mercado livre no Brasil.

Ele também criticou o argumento do motivo da retirada da emenda inserida pelo Senado: “Jabuti que beneficia o consumidor não pode, mas aquele que privilegia um grupo pequeno e prejudica o consumidor, aí pode”.

Medeiros avalia que a abertura do setor produziria mudanças estruturais valorosas e auxiliaria na redução dos custos de energia, ao contrário das últimas MPs, que transferem custos ao consumidor.